quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Henrique Cunha Júnior - Nossa doença social é branca




Henrique Cunha JúniorNossa doença social é branca

O Brasil é um país onde o racismo antinegro faz parte da estrutura social. A posição econômica e a vida da população negra são problemas sociais estruturais da formação histórica nacional em seus aspectos: social, cultural, política, sanitário, espacial e econômico. Relembrando o grande sociólogo Guerreiro Ramos, que propunha estudarmos a patologia social do branco brasileiro. Este branco histórico, categoria conceitual explicativa dos problemas da dominação estrutural no Brasil, conduziu os processos de escravismo criminoso e depois de capitalismo racistas. Produziu cinco séculos de dominação e não satisfeitos partem para outro.

O nosso problema é que doença social branca, trata-se de uma ideologia que mina a razão humanística da nossa população. Todas as vezes que os movimentos negros conseguem avanços nas melhorias das condições sociais da população negra a doença branca é ativada e reage, procurando contaminara as mentes e os espíritos para produzir retrocessos, assim reforçando as suas possibilidades de mando e exercício do autoritarismo político ideológico, mantendo a população negra nos lugares da desqualificação social. Doença social é um conjunto de ideais e praticas que levam a morte de pessoas, que produzem a vida em condições ruins, causam dor e sofrimento desnecessário.

“Sexo as a negas” faz parte da prática e da doença branca na sociedade brasileira. O problema da doença é quando os médicos se calam, quando todo serviço mental da saúde mental fica paralisado. De assistimos o que estamos assistindo ao descaso pela doença que avança se prolifera e conduz as loucuras sociais e os extermínios do genocídio. “Sexo e as negas” é um grande genocídio mental e espiritual que afeta significativamente a vida de toda a população negra no país. O incrível é que o grande silencia não seja de luto e sim de concordância e omissão da sociedade.

O seriado reitera o mito de democracia racial e, nas minúcias elogiosas à população negra, manifesta os preconceitos. Celebra-se uma população que foi empurrada para as periferias, que vive as dificuldades da pobreza e ainda sim é descrita como feliz e satisfeita. Não é normal que o referido grupo esteja submetido a condições de privação de acesso à educação etc. Tudo isso é socialmente e historicamente construído. Este seriado com aparência de inocente vem carregado das ideias do Gilberto Freyre, bem elogioso, mordaz e contemplativo, a doença social tratada como normal sem importância alguma, sem medirem as consequências sobre a população negra. O problema não é o sexo, esse menos importa. O problema é toda conjuntura que nos registra nos parâmetros dos retrocessos políticos sobre a compreensão das desigualdades sociais brasileiras baseadas nas formas de imposição do racismo antinegro. Ela confunde os espíritos e adoece as mentes.

É nessa atemporalidade racista que em que são manifestados os preconceitos contra a população negra travestidos de elogios e de celebração. Chamamos de doença branca o forte apelo para inserir na cabeça das pessoas heranças de Freyre da cultura inferior. Não é estereotipando a população negra por meio de um seriado de se diz enfrentar o racismo por meio da constatação e da contemplação das desigualdades. Retratar as populações negras dessa forma é proliferar os mecanismos do racismo antinegro.

Nessa abordagem o racismo antinegro é um problema específico e particular que afeta a população afrodescendente devido às contingências da formação histórica do país e às relações de dominação elaboradas entre os grupos sociais de origem africana e europeia. Não trabalhamos com as categorias de raça social ou biológica, mas sim com a história sociológica. Entendemos que o racismo antinegro é parte do processo de formação das classes sociais brasileiras, numa elaboração que não foi, ainda, suficientemente estudada.