domingo, 6 de maio de 2012

Grupo Escuta de Teatro & Música


Uma alegria que nasce no aconchego do nosso Quintal. Propaga-se pelo acesso compartilhado que é o prazer de cantar para existir como sempre ensinou a Ancestralidade Africana. É assim que Bumba-meu-Boi movimenta-se na dinâmica do ritual e converte-se em CompuTAMBOR! Bumba-meu-Boi são @s Negr@s na alegria contagiante da festa revertendo e resistindo para (re)construir o viver. Urrou que acorda a saudade ancestral e atualiza o tempo presente para que descendência seja o mesmo que comunidade, ou seja, um gesto de afeto para com uma palavra cheia de abraços.

sábado, 31 de março de 2012

A História do Rei Galanga


Vem da terra o sumo que alimenta a vida. Ou a gente respeita isso ou nos arvoraremos como a espécie que destruiu o que os antepassados nos legaram com tanta generosidade. 

O candomblé nos ensina a vivenciar essa relação como uma amizade sincera entre cada ser humano e o nosso meio ambiente. Cada pedaço de espaço está completamente condensado de energia. Sempre que a gente esquece esse princípio e nos deixamos ser massificados pela sanha da conquista que destrói, é essa força que estamos cutucando com vara curta. Uma energia maternal que tem-nos mostrado o que acontece quando intentamos ser maior que a amplidão do mistério que envolve essa perfeição que é a existência da vida no planeta.  O candomblé, através de uma sabedoria que não cabe em nenhum livro, vai nos contar que a circularidade do mundo canta & dança num compasso de quatro elementos: Terra, Fogo, Água e Ar. Os orixás (Forças da Natureza) tem a magnificência de nos ajudar a perceber como nós não podemos usar e abusar dessa força contra nós próprios: no entanto, acima de tudo está Olodumaré e seu hálito criador. Onisciente, silente, açambarcando nossa inércia nociva.

Essa cosmovisão africana há tempos está com a gente, mas tem vindo ficar conosco de forma mais intensa nesse momento em que estamos compartilhando a criação de uma proposta de contação de história para o livro da Geranilde Costa, “A História do Rei Galanga”.

Bem, sendo a Ancestralidade Africana a matriz que movimenta nosso fazer teatral, isso nos mostra outro caminho que não aceita cristalizar a escrita e a leitura como exclusivas do processo da comunicação humana. Faz tempo que a civilização dos Dogon, no Mali, sabiamente afirma que "o ritmo é a mãe das palavras (...) todo ritmo musical produzido por um tambor pode ser traduzido em tipos que representam a fala desse instrumento". Em outras palavras os Dogon estão dizendo que o tambor foi a primeira tecnologia usada para as pessoas se comunicarem.  

Nem precisamos dizer o quanto nosso Grupo Tambor de Rua se (co-move) com essa sabedoria dos Dogon. (Co-Move) significa dizer é comovido por esse ensinamento que, ao final, vai afirmar em alto & bom som: Tambor Fala! (Co-move) é o mesmo que desencadear todo um processo de trabalho conduzido não pela lógica racional-monológica, mas, sobretudo, pela emoção & sensibilidade do movimento em ritmo. A Ancestralidade Africana se estrutura na religião que, por sua vez, não trabalha com a ideia de dogma religioso e nem verdade imutável. Essa mesma religião – bússola da vida – vai se assentar no prazer da festa, pois esta encerra todos os elementos da participação social. A mesma Festa dos tambores sempre que os orixás comungam com o corpo das pessoas iniciadas na religião, no momento do Xirê. Sem esquecer que toda essa relação de intimidade dos orixás e o corpo d@s iniciad@s só é possível porque os tambores foram festivamente mobilizados pelas mãos dos alabês. Dizem os antigos, “palavra de orixá é som de tambor”. Aqui sempre mora a possibilidade de outras palavras, infinitas possibilidades. Bem dizem os Dogon, “tambor, fala!”   

quinta-feira, 22 de março de 2012

Alto-Falante: Quando o Corpo Dança Toca o Tambor do Pensamento

Oficina com Wellington Pará...

“Os africanos tocam a vida Cantando”

A oficina vai se assentar na ideia de buscar a teatralidade que habita em nós. Essa compreensão vai pautar o chão sagrado que nós vamos trilhar para parir nossa cosmovisão afrodescendente de produzir uma prática teatral que nos comtemple por inteiro. Na verdade, (Fecundar) nossa didática encharcada de Ancestralidade Africana; daí porque a proposta que da vida ao trabalho, nasce do princípio da (fecundidade & procriação) como valores sagrados na CULTURA TRADICIONAL. A cultura da ancestralidade africana vai sempre privilegiar a possibilidade de circularidade nos descendentes. Os brinquedos-dançantes que vitalizam o processo dos nossos encontros apontam para a possibilidade de uma educação em teatro que não nos agrida nem nos oprima por sermos quem somos, ou seja, o Teatro do Encantamento da Ancestralidade Africana é a realização concreta do tamborilar que (canta & dança & diz) ser plenamente possível fazer teatro para além das muralhas gregas. 

No que se refere ao resultado final da oficina, a relação [Brincantes & Participantes] – a essência do teatro de rua – vai se estabelecer a partir dos “brinquedos-dançantes” utilizados na oficina interna com os brincantes. Isso objetiva explicitar os caminhos e encruzilhadas possíveis! A intenção é creditar aos “brinquedos-dançantes” a força vital que ludicamente mobiliza o essencial do CORPO, a fim de desencadear uma expressão teatralizada que DANÇA e faz TOCAR o TAMBOR do Pensamento. 

Esse deverá ser mais um momento em que nos conectaremos em ligação direta com o jeito africano de expressar as coisas da vida: dança, canto, festa e...MÁSCARA! Segundo Ana Cristina da Cunha Lins “o africano vê na máscara uma possibilidade de participar da multiplicidade da vida, criando novas realidades fora daquela meramente humana. Mascarado, ele poderá ser também um homem-espírito, benéfico ou maléfico, homem-animal, homem-divindade. Isto representa uma real possibilidade de existir de outra maneira, possibilidade admitida e reconhecida: de fato ninguém duvida do poder transfigurador da máscara”.

Além de toda essa riqueza, a MÁSCARA é quem vai possibilitar aos mais tímidos uma “proteção”. Na verdade seria melhor dizer (revelação) de sua emoção e sensibilidade ainda utilizadas como forma de defesa. Realmente trata-se de um ritual de iniciação. @s tímid@s, transfigurad@s pela força e magia das máscaras, entram num diálogo profundo consigo mesm@ para emergirem de lá renovad@s.

“Alto-Falante: Quando o Corpo Dança Toca o Tambor do Pensamento” passa a ser a crença na nossa própria palavra, necessariamente a festa que brinca de reinventar o que nos toca mais profundamente. Fazer teatro é a liberdade de também (engravidar – parir – criar) nossa Pedagogia do Baobá, porque “quem sabe de mim sou eu”. É por isso que criamos um oriki que diz: (o teatro que não está em mim não está comigo). Código de acesso ao processo. Vamos nessa!? 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Afrodescendência Afirmativa: Os Toques & Tons das Canções 

Até que os leões possam contar suas próprias histórias, as histórias de caça irão sempre glorificar o caçador - (ditado africano) 

A implementação da lei 10.639/2003, na área da Educação, trouxe para sala de aula a fala dos tambores, na medida em que possibilita ao currículo escolar trabalhar, em todos os níveis de ensino, com as questões da cultura e história africana e afrobrasileira. 

Fruto de uma luta coletiva do Movimento Negro, essa lei abriga o sonho de vários homens e mulheres que desde a África reagiram contra o ESCRAVISMO CRIMINOSO que lhes foi imposto pelo colonizador. Foi por conta do embate coletivo do povo negro que hoje tornou-se legal estudar de maneira aprofundada e festiva a contribuição desta cultura e história na formação da sociedade brasileira. Essa lei, se nós fossemos buscar uma representação próxima do concreto, ela seria assim uma espécie de Baobá - forte e frondosa - e suas folhas o conjunto de amor e dor de cada negro e negra feito seiva lhe dando vida, e dela recebendo vitalidade. 

Na cultura dos povos traficados da África para o Brasil, a musicalidade se derrama para todos os lados. Na perspectiva da cosmovisão africana o mundo canta, sobretudo dança! Na cadência rítmica dos griots a sedimentar a memória das comunidades que sempre vão proporcionar aos ouvintes o cantar e o dançar como forma de interagir com a oralidade do c@ntador de histórias; ou também quando a tradição vai dizer que cada pessoa tem sua canção e isso é tão sincero e tocante que se alguém entra em desarmonia a comunidade canta a sua canção para lhe trazer de volta o equilíbrio. E é ainda a musicalidade, agora dos tambores, que vai propiciar uma relação com o sagrado. Na religião da cultura ioruba, os orixás, que são forças da natureza, para estabelecer um contato com os seres humanos são "chamados" através do toque dos tambores. O toque das mãos ao percutir o instrumento possibilita esse vínculo com o sagrado. Nesse momento os corpos dançam, dançam para compartilhar o axé. 

Um trabalho voltado para uma interação com alun@s de ensino médio falando sobre as questões da afrodescendência, talvez encontre uma sintonia fabulosa se buscar a via dos toques & tons das canções. Tod@s gostamos de música. Os(as) adolescentes (eles/elas) respiram através das tonalidades diversas e das múltiplas sonoridades. Ainda mais agora quando dispositivos tecnológicos fácil e sutilmente lhes desconectam do mundo plugando-lhes no umbigo infinito das canções. 

Realmente, a forma ocidentalizada de 'consumir' canção é bem diferente de uma proposta com a tradição africana na qual as canções serão sempre motivo para um congraçamento. Do ponto de vista da cosmovisão africana o barato só vai rolar se partir do meu umbigo e abraçar no mínimo minha comunidade. No entanto, mesmo com essa diferença cultural, o link que irá estabelecer uma mediação nessa nossa brincadeira continua sendo a musicalidade. 

Hoje no Brasil nós já contabilizamos um vasto repertório de canções populares que fazem referências à cultura afrobrasileira, principalmente no tocante ao culto dos orixás. Vai desde as mais refinadas que revelam uma poética para iniciados, passa pelos resquícios de uma onda chamada "axé music" e chega naquelas que não diferenciam candomblé de umbanda. Contudo não perdem o caráter de canal que pode ser estabelecido com (os/as) alun@s, a fim de que seja proposto um diálogo sobre as questões da afrodescendência afirmativa.


As canções que se enquadram no que se convencionou denominar de MPB (Música Popular Brasileira), e que se reportam a essas questões, em sua grande maioria, são excelentes para que a gente possa desencadear, através de suas letras, as mais lúdicas e embaladas ações educativas. Analisar e refletir sobre o contexto e conteúdo dessas canções ou musicalizar & dançar o debate e a pesquisa sobre discriminação racial e/ou religiosa, com certeza é abrir espaço no currículo para que a lei se efetive, é contribuir para uma educação pluralista e nessa pluralidade afirmar a participação da população negra, desconstruindo assim estereótipos e distorções. 

Uma canção precisa dizer ao que veio no tempo exíguo e sempre descartável do mercado fonográfico. Três minutos não comportam a profundidade que deve ter uma dissertação, muito menos a complexidade de uma tese. Ainda assim uma canção é um objeto discursivo carregado de intenções. Precisamos não esquecer de que o discurso se alimenta de um dos recursos mais sofisticados para o exercício do poder: a língua. Consciente ou mesmo sem querer uma canção sempre vai estabelecer uma teia de relações. São essas relações que vão animar a aprendizagem cantante. É o que a canção revela ou esconde que vai conduzir o diálogo horizontal em sala de aula. 

Uma coisa de imediato salta aos nossos olhos: noss@s alun@s estão submers@s em canções e, podem acreditar (eles/elas) a-do-ram! O que há de tão contagiante nesse tipo de informação? Forma? Deforma? Tem espaço na sua escola? Não é de hoje que a canção vem marcando colado, às vezes no "fundão" ou até mesmo por entre os fones de ouvido mais descolados da sala. Para a cultura de base africana [cantar-dançar] é o mesmo que viver. Não seria esse um toque para que a gente repense nossas teorias tão excludentes da sensibilidade? E por falar em exclusão, uma vez que nós vamos abordar a afrodescendência de forma afirmativa, não seria a hora de criarmos outras metodologias? A cosmovisão africana ficaria encantada, os/as alun@s, idem. 

Fortaleza, 04 de outubro de 2008 
Wellington Pará... (toquetons@gmail.com)


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A Oficina... "Música, Letra & Dança" das Relações Etnicorraciais



A Ancestralidade Africana dançou na leveza dos corpos que se permitiram instaurar uma compreensão que vai muito além do raciocínio lógico. Esse movimento feliz de revisitar as origens fez e sempre fará festa para a idéia de coletivo. É por isso que comunidade é uma palavra cheia de abraços. Precisamos sentir no corpo inteiro por onde desconstruir o abc do capitalismo-racista nos impingindo o contrário do que estamos vendo. A tradição dos saberes africanos nos conduzirá sempre para uma ação perpassada de alteridade. As pessoas – (na roda) – contagiam-se com uma energia que (co-move) a mudança pendurada num cortejo alegre, típico do sentimento bantu.       


A oficina Ancestralidade Africana e a Educação das Relações Etnicorraciais: “Música, Letra & Dança”, nas noites de segundas e quartas de julho/2011, no SESC Centro, em Fortaleza, contou, sobretudo, com o desprendimento d@s brincantes querendo construir um outro jeito de configurar uma educação que afirma festivamente a presença africana na sociedade brasileira. Os toques & tons das canções para fazer o pensamento dançar a fim de o corpo expressar o íntimo do coração é um pomar engravidado de possibilidades fecundantes. Um percurso feliz, pois cada pessoa acessa a partir da sua sensibilidade mais idiossincrática, por isso mesmo profundamente humana. Foi assim que a roda do coletivo cantou, dançou e deixou na gente uma saudade boa. A ancestralidade, no entender de Eduardo Oliveira, mora no sentimento da saudade. Desta forma é que só nos resta dizer muito obrigado e até breve a tod@s!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

OFICINA - Ancestralidade Africana e a Educação das Relações Etnicorraciais: "Música, Letra & Dança"


Cultura afrobrasileira e africana e o jeito tocante de fazer o pensamento dançar para expressar corporalmente o que sente o coração.

G R Á T I S!

Público alvo: Educadores(as) e pessoas interessadas em Educação e Afrodescendência
Período: Julho/2011
Dias: segundas e quartas
Horário: 18 às 20h
Local: SESC Centro – Rua 24 de maio, 692 – Centro – Fortaleza – Ceará
Informações: (085) 34.55.21.18 – (De 11 às 21h)

SINOPSE: Uma oficina no formato de [Brinquedos Dançantes] para interagir com as pessoas, a fim de tocá-las com a maneira ancestral africana de produzir saberes, ou seja: “tocar a vida cantando”. Brinquedos em movimento para trabalhar com a idéia de Ancestralidade Africana, buscando alternativas para (dançar-cantar-pensar) um jeito diferente de configurar a Educação das Relações Etnicorraciais e a Lei 10.639/2003.

ANCESTRALIDADE AFRICANA E A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ETNICORRACIAIS: “MÚSICA, LETRA & DANÇA”

"A Ancestralidade Africana é a nossa via de identidade histórica. Sem ela não compreendemos o que somos e nem seremos o que queremos ser" – Henrique Cunha Júnior

A implementação da Lei 10.639/2003, na área da Educação, trouxe para sala de aula a fala dos tambores, na medida em que possibilita ao currículo escolar trabalhar, em todos os níveis de ensino, com as questões da cultura e história afrobrasileira e africana.

A oficina “Ancestralidade Africana e a Educação das Relações Etnicorraciais: “Música, Letra & Dança” visa interagir com os participantes de forma lúdica, a fim de fazer o pensamento dançar para que as questões da afrodescendência sejam vivenciadas conforme ensina os saberes das culturas tradicionais africanas, ou seja, “tocam a vida cantando”.

A oficina brinca com o princípio de Ancestralidade Africana que deve nos reportar para uma outra perspectiva de leitura e compreensão do africano e seus descendentes. Assim, as brincadeiras deverão nos encaminhar para o desejo de criarmos outras maneiras de vivenciar nossa própria história c@ntada sem o ranço do racismo e da discriminação.

Referencializar-se pela Ancestralidade Africana é instituir uma perspectiva "da porteira pra dentro", como bem nos lembra Mãe Senhora. É pensar e construir a partir de nossa origem, sedimentado pela constatação de um laço umbilical que está conectado ao nosso destino. É transgredir as imposições de conceitos e práticas que negam nosso pertencimento étnico, criando em nós - afrodescendentes - um vazio errante e um consenso surdo que de tão raquítico consome toda nossa indignação. Não esqueçamos, "nossa via de identidade histórica" atende também pelo singelo nome de Ancestralidade Africana. E através de tão singela passagem o que vir será para afirmar nossa maneira peculiar de estar no mundo.


Fortaleza, 13 de maio de 2011 – sexta –



Wellington Pará...toquetons@gmail.com

Estamos também aqui: Tambor de Rua