segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

(#WellingtonPará) – Por Uma Oralidade Toda Minha – A Perífrase da Existência Paralela




Publicado em 10 de janeiro de 2016 – domingo.

| Narrado por pblmartins.
| Roteiro: @carolinajesper e @pablolmartins
| Facebook: www.facebook.com/portugueselegal
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Existe um tipo de comportamento, muito comum entre nós, que pouca gente sabe que é um preconceito: o chamado preconceito linguístico.

O modo como a gente fala carrega vários indícios sobre quem somos: de onde viemos, qual é nosso gênero, a nossa faixa etária e até os grupos de que fazemos parte. 
Por isso, criticar o jeito como alguém se expressa pode ser considerado uma maneira disfarçada de demonstrar desrespeito por tudo o que está por trás da fala. 
Parece só uma questão linguística, mas, no fundo, é uma discriminação social.
Acreditar que existe um jeito "certo" de falar, ou que existe um jeito superior, melhor, é o mesmo que acreditar que a Terra é plana. Sabe por quê? Porque já foi provado, há muito tempo, que essas ideias são falsas. 
E sabe quem chegou a essa conclusão? 
Cientistas que passaram a vida estudando o funcionamento das línguas.

Assim como engenheiros são responsáveis por avaliar construções, chefes de cozinha são chamados para comandar banquetes e médicos são os únicos capazes de fazer diagnósticos sobre a saúde de alguém, existem os especialistas no funcionamento das línguas: os linguistas! 
Foram eles que perceberam que não existe NENHUMA língua em que os falantes se expressem seguindo todas as convenções das gramáticas aceitas como oficiais.
Isso é absolutamente normal!
Não acontece só comigo e com você: também acontece com os australianos, alemães, poloneses e argentino.
Também acontecia com o Camões, com o Saramago, Machado de Assis, Eça de Queirós, Fernando Pessoa...
E com minha avó! E a sua. E também a tataravó dela, e o bisavô da tataravó da tataravó... Já deu pra entender, né?
Tudo o que se costuma chamar de "regra" da língua, é, na verdade, uma convenção temporária. 
Essas convenções mudam sempre, o tempo todo, em todas as línguas. 
Não tem por que lutar contra isso. Ou alguém gostaria de voltar a escrever a língua portuguesa como antes? 
A língua que a gente fala é o resultado de mudanças que aconteceram por vários séculos. 
Por isso, não faz sentido lutar para que ela não mude mais. Nosso português já mudou tanto que já não corresponde mais à língua falada em Portugal. 

Por essa razão, passou a ser chamado de português brasileiro por muitos especialistas. Mas espere: o português falado lá na Europa também mudou. Não melhorou nem piorou: só ficou diferente. Todas as línguas mudam! 
Também existem versões arcaicas das línguas faladas por canadenses, russos, marroquinos, colombianos, japoneses e todos os outros povos mundo afora.
Impedir que a língua mude não tem nada a ver com respeito à nação, nem com bons níveis de escolaridade e com nenhuma das outras desculpas que se escuta por aí.
Apesar de tudo isso, a gente não pode se enganar: quanto mais a gente sabe sobre as convenções da nossa língua, mais a gente tem condições de compreender o que é dito e se expressar bem em diferentes contextos, gerando os efeitos que a gente espera gerar.

Isso não significa que a gente precise falar sempre como as gramáticas oficiais sugerem. Muito do que está nelas já caiu em desuso e soaria bem estranho no nosso cotidiano.
É mais ou menos a mesma coisa que acontece com nossa caligrafia: não é porque a gente sabe fazer uma letra toda caprichada, digna de convite de casamento, que vai sair por aí fazendo letra rebuscada até pra escrever lista de compras, certo?

Este é um convite pra que você se junte a nós nesta reflexão sobre a língua que falamos. 

Afinal de contas, mesmo que você nunca tenha pensado a respeito disso, não vai demorar muito tempo pra você concordar:  português é legal.

© 2016.

@carolinajesper


@pablolmartins