Publicado em 10 de janeiro de 2016 – domingo.
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Narrado por pblmartins.
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Roteiro: @carolinajesper e @pablolmartins
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Facebook: www.facebook.com/portugueselegal
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Existe
um tipo de comportamento, muito comum entre nós, que pouca gente sabe que é um
preconceito: o chamado preconceito linguístico.
O modo como a gente fala carrega
vários indícios sobre quem somos: de onde viemos, qual é nosso gênero, a nossa
faixa etária e até os grupos de que fazemos parte.
Por isso, criticar o jeito como
alguém se expressa pode ser considerado uma maneira disfarçada de demonstrar
desrespeito por tudo o que está por trás da fala.
Parece só uma questão linguística,
mas, no fundo, é uma discriminação social.
Acreditar que existe um jeito
"certo" de falar, ou que existe um jeito superior, melhor, é o mesmo
que acreditar que a Terra é plana. Sabe por quê? Porque já foi provado, há
muito tempo, que essas ideias são falsas.
E sabe quem chegou a essa
conclusão?
Cientistas
que passaram a vida estudando o funcionamento das línguas.
Assim como engenheiros são
responsáveis por avaliar construções, chefes de cozinha são chamados para
comandar banquetes e médicos são os únicos capazes de fazer diagnósticos sobre
a saúde de alguém, existem os especialistas no funcionamento das línguas: os
linguistas!
Foram eles que perceberam que não
existe NENHUMA língua em que os falantes se expressem seguindo todas as
convenções das gramáticas aceitas como oficiais.
Isso é absolutamente normal!
Não acontece só comigo e com você:
também acontece com os australianos, alemães, poloneses e argentino.
Também acontecia com o Camões, com o
Saramago, Machado de Assis, Eça de Queirós, Fernando Pessoa...
E com minha avó! E a sua. E também a
tataravó dela, e o bisavô da tataravó da tataravó... Já deu pra entender, né?
Tudo o que se costuma chamar de
"regra" da língua, é, na verdade, uma convenção temporária.
Essas convenções mudam sempre, o
tempo todo, em todas as línguas.
Não tem por que lutar contra isso. Ou
alguém gostaria de voltar a escrever a língua portuguesa como antes?
A língua que a gente fala é o
resultado de mudanças que aconteceram por vários séculos.
Por
isso, não faz sentido lutar para que ela não mude mais. Nosso português já
mudou tanto que já não corresponde mais à língua falada em Portugal.
Por essa razão, passou a ser chamado de
português brasileiro por muitos especialistas. Mas espere: o português falado lá na Europa também
mudou. Não melhorou nem piorou: só ficou diferente. Todas as línguas
mudam!
Também existem versões arcaicas das
línguas faladas por canadenses, russos, marroquinos, colombianos, japoneses e
todos os outros povos mundo afora.
Impedir que a língua mude não tem
nada a ver com respeito à nação, nem com bons níveis de escolaridade e com
nenhuma das outras desculpas que se escuta por aí.
Apesar
de tudo isso, a gente não pode se enganar: quanto mais a gente sabe sobre as
convenções da nossa língua, mais a gente tem condições de compreender o que é
dito e se expressar bem em diferentes contextos, gerando os efeitos que a gente
espera gerar.
Isso não significa que a gente
precise falar sempre como as gramáticas oficiais sugerem. Muito do que está
nelas já caiu em desuso e soaria bem estranho no nosso cotidiano.
É mais ou menos a mesma coisa que
acontece com nossa caligrafia: não é porque a gente sabe fazer uma letra toda
caprichada, digna de convite de casamento, que vai sair por aí fazendo letra
rebuscada até pra escrever lista de compras, certo?
Este é um convite pra que você se
junte a nós nesta reflexão sobre a língua que falamos.
Afinal de contas, mesmo que você
nunca tenha pensado a respeito disso, não vai demorar muito tempo pra você
concordar: português é legal.
© 2016.
@carolinajesper
@pablolmartins
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@carolinajesper
@pablolmartins
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